quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A mentalidade escravocrata de quem deveria defender a sociedade








Escutei uma conversa bizarra entre três promotoras de justiça e que demonstra o tipo de sociedade (escravocrata, creio que seria o adjetivo) que vivemos no Brasil. 

- Ai, to sem empregada há quase um ano!
- Eu tenho uma ótima, ela tá comigo há bastante tempo...8 anos, a idade da minha filha.
- Tenho uma ótima também! Tá em casa há uns dois anos já.
- A minha mora comigo. É o melhor jeito, pq aí você nunca fica na mão. O segredo é você pagar acima do mercado. Ela não vai sair porque não vai ganhar tão bem em nenhum outro lugar.
- Além de pagar mais que um salário, não pode escolher nenhuma novinha não, tem ter mais de 40 já e não pode ser casada. Dou graças a Deus que a minha não tem marido e nem quer arrumar..já pensou ela casa e me deixa? 
- Boa ideia, Fulana, ainda mais que depois de uma certa idade fica difícil até arrumar emprego de outra coisa, né, e se não for casada...pff..pode ter certeza que não sai mais.
- Vou tentar agora ir de atrás de uma com esse perfil. Tá tão difícil conseguir empregada boa...

Eu enxergo uma mentalidade bem escravocrata nesse tipo de ideia torta. Elas pagam? Claro que sim (já imaginou se não pagassem?!!!), isso não quer dizer que manter a empregada doméstica morando na sua casa não beire a uma situação análoga a de escravidão, já que a pessoa, pelo conteúdo da conversa, deve ficar disponível 24 horas por dia para atender a todas as necessidades (?) dos patrões, inclusive feriados e fins de semana. Quem aguenta todo essa carga de trabalho? Nem elas mesmas trabalham tanto (só de férias, são 60 dias ao ano, sem contar os outros afastamentos a que têm direito). Não bastasse essa exploração toda, ainda querem que seja uma mulher solteira e na faixa dos 40 anos, tudo pra que "não sejam deixadas na mão", ainda querem uma pessoa que não tenha e não queira constituir família. Que absurdo! Tudo para que possam se entregar integralmente ao serviço. 
Engraçado...nenhuma delas optou por não constituir sua própria família para que pudessem se dedicar exclusivamente ao seu trabalho, mas querem alguém que faça isso por elas. Uma pessoa que não pode ter final de semana, feriado, talvez até pra conceder férias devem impor dificuldades e noite de sono tranquila então? Pq, né, a hora que ocorrer uma "emergência", com certeza serão chamadas..não tem hora-extra que pague isso! Além do que a CLT veda expressamente que um empregado faça mais de duas horas-extras por dia. Alguém duvida que essas senhoras precisem fazer mais?
Acho que tá na hora de dar um toque nessas pessoas que têm essa mentalidade, tipo "fera, a gente tá quase em 2015 e 1850. A escravidão já acabou... Lei Áurea..etc".
Elas querem alguém que passe o resto da vida limpando o que elas não têm coragem de limpar. E ainda tem que ser alguém sem ambição, alguém que quer ficar sendo empregada doméstica para sempre - uma profissão digna, sem dúvidas, mas hoje em dia cada vez mais as pessoas têm oportunidade de crescer e alcançar objetivos impensáveis antes.
Frisando que essas ideias tortas vêm da cabeça de promotoras de justiça. P R O M O T O R A S  D E  J U S T I Ç A. Só de saber dessa mentalidade, vocês já devem imaginar o compromisso com a justiça que elas têm: nenhum. E pensar que deverim fiscalizar a lei e defender a sociedade...

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Empregadas domésticas hoje no Brasil, graças a Emenda Constitucional nº 72, de 02.04.2013, têm exatamente os mesmos direitos dos demais trabalhadores urbanos. Decorrido mais de um ano desde a promulgação da emenda, o Congresso ainda não a regulamentou , o que deixou a classe no prejuízo, uma vez que alguns direitos decorrentes da emenda dependem de devida regulamentação, mas a própria emenda já pode ser considerada uma vitória, já que os trabalhadores domésticos sempre foram maltratados com salários baixos, longas jornadas de trabalho e pouquíssimos direitos trabalhistas.
Que o Congresso Nacional veja que é premente a necessidade de regulamentação da referida emenda para que possam ser assegurados todos os direitos para que o trabalho doméstica seja um trabalho decente para todas e que as pessoas comecem a pensar mais antes de fazerem questão de ter em casa uma escrava para satisfazer e atender o que pensam ser suas necessidades a qualquer hora do dia ou da noite.
Todos temos direito a um trabalho decente!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O deputado que acha bonito ser misógino

O tal do Bolsonaro disse para a também deputada Maria do Rosário "são não te estupro porque você não merece".
Isso é abominável em tantos níveis que eu fiquei até meio perturbada com essa declaração, até porque as informações que saíram na mídia é que ele já havia feito esse tipo de declaração direcionada a referida deputada em 2003. Na primeira vez, nada foi feito. Dessa vez, outras deputadas já saíram em defesa da ofendida e já há, inclusive, proposta de alteração do Código de Ética parlamentar para tratar de agressões machistas. 
Eu tô torcendo muito pra que dê uma quebra de decoro parlamentar que resulta em cassação do mandato. Esse cara já falou tantas atrocidades, já atentou contra direitos humanos e até agora nada foi feito. Quem sabe depois dessa os próprios parlamentares - homens e mulheres - façam algo pra que isso pare.
Como bem disse a Manuela D'Ávila: "quando ele diz que ela não merece ser estuprada, diz subliminarmente que 1) algumas mulheres merecem 2) que ele é potencial estuprador. 
Uma pessoa que tem coragem de fazer esse discurso misógino só faz pq sabe que nada vai acontecer, que ele pode falar sem que tome nenhuma punição e também pq sabe que esse é o senso comum: as pessoas realmente acreditam que existem mulheres que merecem ser estupradas. Essa mentalidade precisa mudar. Nenhuma mulher. NENHUMA. N E N H U M A mulher merece ser estuprada. Se você acha que "ah mas nessa situação ela merecia" NÃAAAAO!!! NÃO MERECE.
É sério, gente, vamos tentar mudar essa mentalidade pra que Bolsonaro e seus seguidores (tem gente que quer que o misógino seja presidente!!) não possam mais dar esse tipo de declaração e, caso resolvam abrir a boca pra cagar, que sejam punidos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Força, Andressa!



A nossa eterna vice miss bumbum, Andressa Urach, está mal - internada, respirando com a ajuda de aparelhos, após uma complicação de uma aplicação de hidrogel feita há 5 anos - e estou aqui torcendo muito por ela pra que ela saia bem dessa! O triste é ver o quanto de pessoas está debochando da situação, dizendo que "ela quer aparecer", falando que "bem feito, quem mandou ser vaidosa e fazer esses procedimentos", "é so uma subcelebridade que ta sofrendo as consequências das atitudes". 
Meu, o que é isso? Que falta de empatia é essa? Então um ser humano está mal, e você pensa "bem feito"? Humanidade mandou lembranças! Humanidade e coerência também. Pensem só: hoje vivemos em uma sociedade na qual nós mulheres devemos alcançar um padrão de beleza...inalcançável. Eu, por exemplo, que sou bem magra, estou fora do padrão, pq tem que ser magra, mas  ~com curvas~  então tenho que fazer musculação, botar um silicone, comer mais. Quem é gorda não pode ser gorda, pq "hoje em dia tem muitos métodos pra emagrecer e fechar  a boca é de graça", ser gorda é uma verdadeira heresia. Quem é gostosa é fútil pq "deveria se importar com coisas mais importantes que beleza", especialmente se conseguiu isso através de procedimentos estéticos, afinal, "beleza tem que ser natural". Oi???? Então se eu não me utilizo dos métodos artificias eu tô errada e se eu uso eu tô errada também? 
Andressinha é vítima - assim como todas nós, mulheres -   dessa  busca implacável pela beleza. Quantas mulheres morrem por fazer procedimentos estéticos e cirúrgicos totalmente desnecessários apenas na ânsia de se encaixar nesse modelo? Eu nunca fiz nenhum procedimento, mais por falta de grana e coragem, mas não estou satisfeita com meu corpo, gostaria de mudar muitas coisas, e creio que muitas outras mulheres também se olhem no espelho e pensem que tem sempre algo pra mudar, pra aperfeiçoar. Gostaria de viver em um mundo em que todas nós fôssemos belas simplesmente pela nossa essência, pelo que somos e não apenas por um corpo que a sociedade insiste em objetificar.
No fim das contas, todas queremos ficar bonitas, sermos aceitas. Somos todas Andressa.
Melhoras pra Dedessa Urach! 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O que a comoção gerada pela ex-modelo viciada em crack revela sobre a sociedade brasileira



Esses dias fiquei sabendo da história de uma ex-modelo que foi encontrada morando nas ruas. A triste história foi revelada pela Veja São Paulo e logo em seguida divulgada por diversos portais. Logo, todas as emissoras queriam entrevistas com a moça, participação em programas, falam até em reality show com ela. A comoção espalhou-se e logo todos queriam ajudá-la a sair da difícil situação em que se encontra, largar o vício e quem sabe até retomar a carreira. 
Considero tudo isso muito válido, afinal muita gente precisa de ajuda e apoio pra conseguir sair de determinadas situações, especialmente essas nas quais o vício leva a viver em situações degradantes (sem fazer aqui juízo de valor acerca da legalização das drogas), o problema é: existem milhares de outras pessoas nessa situação e nenhuma emissora de TV quer fazer reality show com elas, nem mesmo tentar ajudar a sair do vício, sair das ruas e reconstruir a vida. Porque isso? Qual a diferença entre a modelo - que não coincidentemente é magra, loira, de olhos claros -
e as demais pessoas nessa situação? Por que esses outros estão lá há tanto tempo e ninguém se preocupa em tentar ajudá-los? Por que apenas essa moça chamou atenção? 
Obviamente essa moça merece toda a ajuda possível e necessária, mas o que quero deixar bem claro aqui é: e os outros? Será que eles não merecem a mesma atenção, a mesma comoção por parte da sociedade? 
O que fica muito claro é que as pessoas veem aquela mulher branca, loira, alta e pensam "ela não pertence a esse mundo, vamos tirá-la dali", mas as outras centenas de pessoas, negras na sua maioria, que estão nas ruas todos os dias, que também tinham uma vida - podia não ser uma vida glamourosa de modelo, mas ainda assim viviam, tinham emprego, talvez família constituída, amigos, sonhos, planos - mas aparentemente consideram normal que estejam ali, afinal são negros e pobres, eles sim pertencem a esse mundo, um mundo desumano, um mundo que está apartado do nosso, totalmente esquecido (propositalmente, diria). Isso só demonstra o quanto a nossa sociedade ainda é racista. 
Negros e pardos podem estar em situação de miséria extrema, tendo que praticar pequenos furtos, até mesmo assaltos, para sobreviver e sustentar o vício,  mas tudo bem, é assim mesmo. O Brasil inteiro conhece, ou pelo menos já ouviu falar, na cracolândia e das condições a que as pessoas estão passando, mas o descaso do governo e da sociedade parece estar de tal forma enraizado que é natural pensar naquelas pessoas e simplesmente dizer "estão assim pq querem", são "um bando de drogados", "bando de
vagabundos". Agora uma pessoa branca de olhos claros está lá e automaticamente todo mundo pensa "nossa, o que ela tá fazendo aí???". O nome disso, meusa migos, é racismo. Sim, racismo. A moça branca deve estar linda e feliz modelando e as milhares de negras e negros podem ficar ali por anos e anos e ninguém dar a menor importância? Por que será que o Rodrigo Faro nunca foi andar por lá pra ajudar qualquer uma daquelas pessoas? Por que uns merecem atenção e outros descaso? O racismo estrutural coloca que brancos são superiores e têm privilégios. O que ocorre nesse caso é exatamente isso: a moça que deveria ser privilegiada está no meio dos que não têm privilégio algum.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A nova série da Globo - Eu que amo tanto (e que estou odiando)



A Rede Globo, mais uma vez, começou a transmitir uma série (ou minissérie, não sei o nome) de conteúdo questionável. Na verdade, creio que dizer que o conteúdo é "questionável" pode até ser considerado eufemismo, já que eu enxergo passar esse tipo de programa como uma verdadeira irresponsabilidade social.
Eu vi as chamadas do troço e já pensei "puta que pariu, lá vem mais um programa pra ajudar a dizer que somos loucas e desequilibradas"  pq né, já tem pouco, manda mais. Nem lembro o motivo, mas não vi os dois primeiros episódios e no último domingo (23.11) eu lembrei e coloquei no Fantástico, torcendo para que não tivesse perdido. Pra minha sorte (ou azar) ia começar justamente naquele bloco. O epi era sobre uma mulher casada com um homem que larga esse casamento após apaixonar-se por outra mulher para ~viver esse amor~ com ela.
A personagem principal (cujo nome esqueci, apesar de ter achado magistral a interpretação de Marjorie Estiano) começa a ter crises de ciúme absurdas, chega a quebrar a casa toda, fazer escândalo na rua, e, no dia em que a sua parceira termina o relacionamento, ela surta no supermercado. E a conclusão que fica: nenhuma. Ela só fica parecendo uma maluca mesmo que "ama demais". 
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Eu  tava sabendo que a série era baseada num Livro homônimo da Marília Gabriela, que por sua vez foi inspirado num outro livro, best-seller internacional, Mulheres que Amam Demais - "Robin Norwood escreveu o livro baseado na sua própria experiência e na experiência de centenas de mulheres envolvidas com dependentes químicos. Ela percebeu um padrão de comportamento comum em todas elas e as chamou de "mulheres que amam demais" (aqui você pode ler mais). A obra de Robin Norwood tem um objetivo claro: "ajudar mulheres persistem num relacionamento inacessível e insensato, mas ainda assim, são incapazes de rompê-lo". O que Robin quer é mostrar que devemos pensar em nós mesmas, ser felizes por nós e não por alguém que não retribui o amor que sentimos, nos faz sofrer e simplesmente não muda de atitude.

No episódio que eu assisti, simplesmente jogaram a história e terminou sem final, sem uma explicação praquilo tudo. Como disse, só deixou a mulher parecendo uma louca, desvairada, sem noção.
A produção poderia ter colocado pelo menos no primeiro episódio o que significa esse "amo tanto". Pesquisei e não me surpreendi com o fato de que não, ninguém explicou nada nos episódios anteriores. Colocaram histórias completamente descontextualizadas, com um objetivo que eu sinceramente desconheço, mas só consigo pensar que é pra dizer que somos loucas.
No maravilhoso Lugar de Mulher encontrei um post excelente que diz EXATAMENTE TUDO o que tem pra ser dito sobre a tal série, até mesmo mostra quais as possíveis causas para que uma mulher se torne uma mulher que ama demais, segundo Robin Norwood:
  1. Vem de um lar desajustado, em que suas necessidades emocionais não foram satisfeitas;
  2. Como não recebeu um mínimo de atenção, tenta suprir essa necessidade insatisfeita através de outra pessoa, tornando-se superatenciosa, principalmente com homens aparentemente carentes;
  3. Como não pode transformar seus pais nas pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas de que precisava, reage fortemente ao tipo de homem familiar, porém inacessível, o qual tenta, transformar através de seu amor;
  4. Com medo de ser abandonada, faz qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento;
  5. Quase nada é problema, toma muito tempo ou mesmo custa demais, se for para “ajudar” o homem com quem esta envolvida;
  6. Habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, está disposta a ter paciência, esperança, tentando agradar cada vez mais;
  7. Está disposta a arcar com mais de 50% da responsabilidade, da culpa e das falhas em qualquer relacionamento;
  8. Sua auto-estima está criticamente baixa, e no fundo não acredita que mereça ser feliz. Ao contrário, acredita que deve conquistar o direito de desfrutar a vida;
  9. Como experimentou pouca segurança na infância, tem uma necessidade desesperadora de controlar seus homens e seus relacionamentos. Mascara seus esforços para controlar pessoas e situações, mostrando-se “prestativa”;
  10. Esta muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser, do que com a realidade da situação;
  11. Tem tendência psicológica, e com freqüência, bioquímica a se tornar dependente de drogas, álcool e/ou certos tipos de alimento, principalmente doces;
  12. Ao ser atraída por pessoas com problemas que precisam de solução, ou ao se envolver em situações caóticas, incertas e dolorosas emocionalmente, evita concentrar a responsabilidade em si própria;
  13. Tende a ter momentos de depressão, e tenta previni-los através da agitação criada por um relacionamento instável;
  14. Não tem atração por homens gentis, estáveis, seguros e que estão interessados nela. Acha que esses homens “agradáveis” são enfadonhos.
Então, galera, com o mínimo de contexto todo mundo teria entendido que ninguém gosta de apanhar, de ser humilhada, que não é um-ciúme-maluco-e-sem-sentido que mulheres (todas loucas) sentem. Permanecer em relacionamentos doentios e aceitar a conduta de parceiros que não mudam nunca, apenas abusam mais da mulher, é sintoma de um problema sério, não é uma "paixão bandida" PELAMORDDS NÃO DIGAM ISSO. Encerro com:
"A MADA não é uma mulher louca, não é uma desequilibrada, não é uma coitada que só aprendeu um background emocional ruim – ela é, antes de tudo, uma codependente. E a codependência é uma bagagem social tipicamente feminina em uma sociedade machista e patriarcal. Afinal, nós somos criadas desde pequenas para sermos princesas – sofrendo, nos envenenando, dormindo um sono de morte, reformando a ‘fera’ para que ela se torne um príncipe encantado. Beijando sapos, e nos afogando com eles. Isso é uma MADA – a mulher que é viciada na ilusão de controle de um relacionamento, seja ele desequilibrado ou não. E esse é um vício extremamente poderoso, quem já se sentou em uma reunião do MADA sabe disso muito bem".





segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Melô do PSDB -

Lembram daquela musiquinha do grupo 'As meninas', que fez muito sucesso no início dos anos 2000 (ou final dos anos 90, algo assim), e era mais ou menos assim "e o rico cada vez fica mais rico. e o pobre cada vez fica mais pobre. E o motivo todo mundo já conhece: é que o de cima, sobe e o debaixo, desce"? Ela fez muito sucesso numa época em que o Brasil ia mal. Mal mesmo. O desemprego e a misérias reinavam no país e a música fez sucesso exatamente porque refletia o momento que vivíamos. Uma época em que os ricos ficavam cada dia mais ricos e os pobres cada dia mais pobres.
Se essa música fosse lançada hoje, ela não faria sentido, afinal, o Brasil é modelo no combate à fome, miséria e desigualdade social - inclusive tendo saído do mapa da fome mapa da fome da ONU. O primeiro país a atingir um dos objetivos do milênio!
Infelizmente, essa música engraçadinha pode voltar a fazer sentido, dependendo de quem será eleito no próximo domingo. Não sou paga por ninguém e odeio terrorismo, campanha de medo e etc, mas o que a população precisa? Será que queremos aquele modelo neoliberal (o adotado pelo governo FHC, leia-se) que privilegia empresários milionários em detrimento da população geral ou queremos melhorias para todos, indistintamente?
Eu sei que eu quero continuar num país cujo governo busca dar oportunidades para todos, reduzindo fome, desemprego, taxas de juros e ingerências de organismo internacionais na nossa economia (leia-se: FMI).
Não estou aqui para mudar o voto de ninguém, acho que a essa altura do campeonato, nem seria possível, mas tem muita gente indecisa que deveria ver bem qual seus interesses.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Blog Action Day 2014 - A luta do feminismo

Hoje, 16.10.2014, é dia do blog action day 2014, que é uma espécie de evento que acontece desde 2007 na internet no qual ~blogueiros~ do mundo todo, em um dia escolhido pela organização, para falar sobre um tema específico. São sempre assuntos muito importantes e nesse dia as pessoas usam a internet para chamar atenção para o tema escolhido. Descobri há alguns dias que esse blog action day existia e resolvi participar. O tópico do ano é desigualdade.

A desigualdade reina no nosso planeta. E ela é de todo tipo: econômica, racial, orientação sexual e de gênero. E ela mata. Sim, a desigualdade mata milhares de pessoas todos os anos. A desigualdade econômica mata pessoas que simplesmente não tem o que comer - é só você ter em mente que 1% da população mundial concentra metade da riqueza do planeta. O racismo mata (vide caso Ferguson, nos E.U.A). A homo/lesbo/bi/transfobia, adivinhem só: mata também.  E, por último, mas não menos importante, o machismo mata. E vou utilizar meu espaço no blog action day exatamente para (tentar) abordar algumas nuances do machismo.

Há quem diga que machismo não existe, que as mulheres já conquistaram todos os direitos dos homens, afinal elas podem trabalhar, escolher com quem casar, podem até votar...querem mais o quê? Mas, será mesmo que feminismo era apenas sobre isso? Não que essas não sejam conquistas válidas, muito pelo contrário, são importantíssimas. Por muito tempo as mulheres tinham que ficar apenas em casa cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos. Trabalhar? Nem pensar! OPA! Mas..peraí? Será que era assim com todas as mulheres? Não. As mulheres negras (que quase sempre eram as mais pobres), por exemplo, não eram impedidas de trabalhar, muito pelo contrário, elas precisavam trabalhar para complementar a renda. De toda forma, o fato de poder ter autonomia sobre o corpo, de votar e ser votada, estudar e crescer na vida as mulheres conseguiram, a questão é: até que ponto.

Até que ponto todas nós temos liberdade para fazer o que quisermos com o nossos corpos? Será que essa liberdade é plena? Digo que não. Se usamos roupa curta (para mostrar o corpo que é nosso), somos vadias, piranhas, vagabundas. Se, ao contrário, somos discretas, quase sempre taxadas de frígidas, santinhas (que tem sentido pejorativo sim) e ainda nos dizem "ah você deveria se valorizar mais, assim nunca vai arrumar um namorado", se usa muita maquiagem, é fútil; se não usa nenhuma é porque não gosta de ~se cuidar; se é muito magra também é ruim pq "homem gosta de carne", se é gorda é preguiçosa e tem que fazer regimes insanos e ir pra academia; se corresponde ao padrão de beleza, é fútil, burra, incompetente - nao sei qual motivo, mas as pessoas, principalmente os homens, tendem a acreditar que mulheres bonitas são burras - e pior ainda, quando são feias (leia-se: não atendem ao padrão de beleza vigente) são criticadas, porque só pode ser desleixo. Nós mulheres não podem ser donas nem da nossa própria aparência, porque a sociedade machista quer sempre ditar os nossos comportamentos.

Não bastasse isso, até na hora de escolher profissão: aquela dicotomia horrorosa de "isso é trabalho de homem, aquilo é de mulher". Não tenho dados, mas sei que nas áreas que envolvem as ciências exatas, o número de mulheres é bem reduzido. Será que aquela aquela historia de que mulheres são ruins em matemática é  verdade? MAS É CLARO QUE NÃO. Nós simplesmente não costumamos ser estimuladas, quando crianças, para que essas aptidões se desenvolvam. Então você encontra nas áreas de ciências exatas um número bem maior de homens. As mulheres que chegam lá costumam sofrer muito preconceito, vítimas diretas do machismo que nos diz todos os dias que mulheres têm que trabalhar apenas na área de humanas porque são mais sentimentais, que não temos competência para nos especializarmos e trabalharmos na área que quisermos pq "isso não é coisa de mulher".

Eu sou péssima em matemática. Muito ruim mesmo. Mas não foi falta de estímulo. Minha mãe sempre, desde criança, me dava brinquedos educativos, com formas geométricas, brinquedos de montar, muito quebra-cabeça (desses eu gosto até hoje). Ela me dava bonecas também, eu gostava de barbie e dessas bonecas bebês, mas uma coisa que a minha mãe nunca fez foi me dar outros típicos brinquedos de menina: coisas de cozinha. Aquele fogão, a vassoura, a pia, os jogos de pratos e xícaras. Com tanta coisa pra aprender, pq ela iria me ensinar a fazer tarefas domésticas? Infelizmente, não são todos os pais que pensam assim e acham q esse tipo de brinquedo é "de menina" pq é obrigação da mulher as tarefas domésticas. Não, não é. 

Uma mulher, assim como um homem, tem que saber fazer as atividades de casa sim,  pra saber cuidar de si, não "pra casar". Nunca vi ninguém ensinar meninos  a cozinhar com o argumento de "tem que saber cozinhar pra quando casar". Mas já vi o contrário. E com certa frequência, infelizmente. Não fui criada pra casar. Tudo relacionado a tarefas de casa que minha mãe me ensinou foi dizendo "o dia que tu for morar sozinha e ter a tua vida, tem que saber se virar". E ainda bem que minha mãe me ensinou assim. Gostaria que todas pudessem ter essa oportunidade.

Minhas amigas, ainda tem mais. A nossa aparência não é nossa, a sociedade inteira cuida dela pra que sejamos compelidas a nos achar feias e gastar milhares com produtos de beleza (uma industria muito lucrativa), ou então como se nossa vida inteira devesse ser baseada em nos arrumar pra conseguir homem. Não podemos escolher uma área que gostamos mais pq temos que responder à expectativa de sermos sempre as emocionais que jamais usam a razão. Além disso, precisamos nos submeter a todo tipo de assédio e violência (qualquer tipo de violência, não apenas física) e ainda acham ruim quando reclamamos. Nem na rua, que é pública, temos paz. Chamam de "cantadas", mas eu chamo de ASSÉDIO. Andar na rua e ouvir coisas do tipo "gostosa!", "vou te chupar todinha", "bocetao"..somos abrigadas a aceitar esse tipo de violência??? NÃO, AMIGAS, NÃO SOMOS! Vamos, sim, reclamar, chamar as autoridades competentes, não só pra esse tipo de assédio. No trabalho também, mulheres são vítimas constantes de assédio sexual e muitas, que necessitam do emprego, acabam se submetendo. Tá na hora de dar um basta! Sem mencionar aqui a violência doméstica. Quantas mulheres apanham e morrem pq os esposos pensam ser donos de um objeto? Quantas mulheres na rua são estupradas pq homens se sentem no poder de usar de um corpo sem autorização, apenas pra mostrar que podem tudo? E, pior, o destrato conosco é tão grande que quando queremos denunciar, passamos pelas situações mais constrangedoras possíveis. É polícia despreparada para receber vítimas desse tipo de violência, é falta de equipamentos e profissionais para que possamos fazer os exames de corpo de delito com o mínimo de constrangimento, é a sociedade nos culpando de crime dos quais somos vítimas.

O machismo faz com que não possamos ser dona do nosso corpo. O machismo nos tira nossos desejos e aspirações profissionais. O machismo machuca. O machismo mata! 

Eu, como feminista que sou, estou aqui para convidar todas para lutar contra esse sistema que prime a todas nós (e oprime os homens também), e para dar mais visibilidade ao tema. ao me utilizar do espaço do blog action day. Estou aqui para (tentar) acabar com o mito criado pelo machismo de que mulheres são inimigas, mulheres são fofoqueiras, mulheres não são confiáveis. Esse tipo de discurso serve apenas para nos afastar e, desconfiando uma das outras, deixemos de nos unir para lutar contra todo esse sistema tão cruel. Temos que nos unir.

Feminismo não é sobre mulheres conquistarem o mundo e passarem a oprimir os homens. Feminismo é sobre escolhas, opções, oportunidades para os gêneros. Feminismo é sobre igualdade!


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Moral e Direito

Estamos quase em 2015 e ainda tem estudante de Direito - prestes a se formar!! - que acredita mesmo que a principal atribuição dele será "defender leis". Uma faculdade inteira e não aprenderam que Direito não é só lei, se fosse, seríamos chamados de "operadores da lei" e não de "operadores do direito". Pra quem acredita piamente nisso, que se faz direito com o objetivo puro e simples de se fazer com que a lei seja cumprida/defendida, lembre-se: tudo que Hitler fez estava abarcado pela legislação da época. E aí, você, que se considera um operador de leis, defenderia uma legislação que permitisse tais atrocidades?

A discussão em torno de direito e moral é extensa e antiga. Sabe-se que Direito e Moral não devem se confundir, são distintos, porém possuem sim pontos de intersecção. Tipo aqueles desenhos de matemática lá do ensino fundamental.

Algumas atitudes consideradas imorais não são necessariamente criminosas. Exemplo: adultério é considerado como imoral, contudo, desde 2006 não figura mais no CP como crime. Nesse caso específico, a conduta está no círculo da moral, porém longe da intersecção com o Direito, isso porque não cabe ao Estado prender ninguém por ter violado a fidelidade conjugal (hoje em dia não se pode mais nem falar em efeitos na esfera cível, haja vista não haver mais que se falar em separação judicial e discussão da culpa). 

Há também os pontos convergentes. O racismo é imoral, sabe-se que discriminar seres humanos pela sua etnia é errado e o legislador, para garantir que todos pudessem viver dignamente, criminalizou o racismo. Discriminar alguém pela cor de sua pele, além de imoral, é criminoso (Lei 7716/89).

Necessário ainda falar dos pontos que Direito e Moral deveriam estar conectadas, mas (ainda) não estão. É o caso da homofobia (que deve, por óbvio, abarcar a bi e transfobia também) que até hoje não foi criminalizada. As pessoas sabem - tanto sabem que mesmo as que agem dessa forma quase sempre negam que sejam preconceituosas arrumando desculpinhas esfarrapadas - que nenhum ser humano pode ser discriminado pela sua orientação sexual. Moralmente já está tudo ok, tudo certo, contudo, o legislador brasileiro, mesmo com o clamor da comunidade LGBT que vem cada dia mais sofrendo ataques violentos, ainda não criminalizou a conduta de desrespeitar direitos (direito a integridade física, psicológica) dos homo/bi/transexuais em razão de orientação sexual. Nesse caso, a lei que já existe se mostra insuficiente para proteger direitos de uma minoria...e aí, vamos defender essa lei? Não, né, vamos defender o que é justo e certo que é criminalização da homofobia.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Não serei tolerante com os intolerantes

Ontem, 28.09.2014, no debate entre os candidatos a presidência da República promovido pela Record, Levy Fidelix disse abertamente, reportando-se aos homossexuais, que "devem ser tratados bem longe" dele; disse que "aparelho excretor não reproduz"; afirmou categoricamente "nós, que somos maioria, devemos combater a minoria".
Quando um CANDIDATO A PRESIDÊNCIA, (ainda que seja um que não tem a menor possibilidade de vencer) fala abertamente em rede nacional que "a maioria deve combater a minoria", claramente um inflamado discurso de ódio à comunidade LGBT. "Combater"? o que ele quis dizer com isso? Pra mim, pareceu querer dizer que devemos lutar contra/extinguir. Vocês sabem quem mais quis extinguir uma minoria porque sentia-se pertencente a uma raça superior? Hitler.

Não bastasse o dito candidato falar todos aqueles absurdos, ainda encontrei gente que defende. Postei lá na ~rede social do mal~ que pelas suas declarações, agora sabemos que não é apenas o candidato Everaldo (que sempre se mostrou intolerante à causa LGBT) que é desprezível. E aparece alguém pra defendê-lo. Sim, acreditem. Um homem usa seu espaço na TV para dizer que a comunidade LGBT precisa de tratamento bem longe (é tipo um apartheid, com a política de segregação, combinada com nazismo que acreditava na tal supremacia das raças e buscava o aperfeiçoamento desta através de tratamentos médicos e etc), associa a homossexualidade à pedofilia (outro absurdo que demonstra a total ignorância e idiotice do cara), fala que essas pessoas devem ser combatidas e  tem gente que fala em liberdade de expressão. "É a opinião dele, temos que respeitar". Não, não temos que respeitar esse tipo de opinião.

Nenhum direito fundamental é absoluto, nem o direito à vida, imagine o direito à liberdade de expressão. O direito de você expressar sua opinião tem limites e esse limite é: o direito das outras pessoas. Ora, o dito cujo não respeitou, de maneira alguma, a comunidade LGBT ao dizer que eles precisam de tratamento, associar a pedofilia e incitar que sejam exterminados, então pq ele deveria ser respeitado? Incitar ódio a uma parcela já socialmente marginalizada não é direito à liberdade de expressão, é pura e simples demonstração de intolerância. Intolerância essa que exclui, marginaliza, priva de direitos e mata.

Não serei tolerante com os intolerantes. Isso pq esses intolerantes, esses mesmos que defendem a restrição de direitos a determinados grupos em razão de etnia, orientação sexual, gênero, ou seja lá qual motivo, só são intolerantes pq, adivinhem só, eles já têm todos os direitos que poderiam. Não são marginalizados, não são excluídos, não são mortos por suas preferências, por sua cor, por orientação sexual. E infelizmente eles usam o poder que têm para manter esses direitos fundamentais - inerente a todas as PESSOAS - como privilégios. Esse tipo de gente mesquinha, egoísta, sem noção, acha que dignidade deve ser privilégio de seus iguais.
Direitos são...direitos. Todo ser humano merece que sejam respeitados, protegidos e, de forma nenhuma, diminuídos.

Ser contra o casamento civil igualitário não faz de você, necessariamente, um homofóbico. Você pode ser contra  o casamento homossexual não se casando com uma pessoa do mesmo sexo. Mas se você, por ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, acha correto que o Estado restrinja o direito das pessoas que decidem fazer isso, mesmo que você nunca tenha dado lampadada na cara de um homo/bi/transexual, você é homofóbico. Ser favorável a restrição de direitos de um grupo simplesmente porque você discorda deles, é ser intolerante. 

O que me deixou abismada, além do discurso de ódio proferido em rede nacional, foi que a candidata que havia feito a pergunta a Levy sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ficou calada pros impropérios ditos pelo bigodudo. Em sua réplica, poderia ter sido mais enfática e combativa como costuma ser em suas respostas, ela poderia ter falado abertamente sobre a incitação de ódio que ele estava fazendo, apologia à intolerância, mas não. Muitos a defenderam dizendo que ela pode ter ficado chocada com tanta coisa estapafúrdia que foi dita. Sim, pode ser. Eu mesma (e creio que todo mudo) demorou uns minutos para processar aquilo que foi dito, mas os candidatos devem estar preparados para responder esse tipo de declaração absurda. Ainda mais que, no último bloco, depois do intervalo, ela teve tempo de pensar e poderia usar seus minutos finais pra combater esse tipo de pensamento. Infelizmente não foi o que aconteceu, não apenas Luciana, mas NENHUM dos candidatos ali presentes se pronunciou, todos preferiram silenciar. E o silêncio, assim como o discurso do homem, foi doloroso.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

SÍNDROME DA MISOGINIA INVOLUNTÁRIA - Desculpa para absolvição dos crimes de ódio

Estava eu ontem no Twitter quando vi uma galera falando em "Síndrome da Misoginia Involuntária". Falando do absurdo que é isso, claro. As pessoas comentavam a respeito de uma tese de defesa de um advogado, cujo cliente foi condenado, que era basicamente: o cara matou uma mulher (professora dele) porque sofre dessa tal Síndrome da Misoginia Involuntária, doença que o levaria a sentir ódio pelo sexo feminino, levando ao extremo de assassinar, mas é inimputável, porque doente o coitado [ironia], né.
Achei isso um absurdo sem tamanho e fiquei sem entender de onde saiu essa síndrome e quem falou pra esse advogado que ela existe ou, ainda, se foi esse irresponsável que inventou ela. Joguei no Google "síndrome da misoginia involuntária" e encontrei um texto, não oficial, de um blog pessoal qualquer, que datava de 2007!!!! É muito absurdo o que diz lá, então não vou passar o link, mas nesse texto diz: 

          (...)mas há uma forma muito mais branda, porém não menos nociva, da misoginia. É a SMI, que geralmente ataca rapazes tímidos e sensíveis e se manifesta depois de decepções amorosas. Não qualquer decepção, claro; tem de ser traumática, humilhante, daquelas que escorcham com a auto-estima do cidadão. O requinte final, que enraiza a SMI mais fundo na alma, são os discursos femininos do tipo “Ah, Fulano é como se fosse meu irmãozinho…”, “Eu gosto de você, mas não ‘desse’ jeito…” e o clássico “Mas a gente é só amigo…”. Destroçado qual um personagem de letra de bolero, o rapaz sente um desejo atávico de mandar à merda tudo quanto é mulher que cruzar seu caminho".


Tipo assim: OI? Rapazes tímidos e sensíveis??? Pra mim, parece aquele cara que ficou na chamada "friendzone" (termo que detesto, mas não é o caso aqui) e achou terrível ser dispensado. O tipo de cara mimado que não aceita "não" como resposta e aí mata as mulheres que supostamente o desprezaram - como se toda mulher que falasse com um cara tivesse obrigação de querer fazer sexo com ele e/ou ter um relacionamento amoroso - aí um cara faz isso e vem uma galera dizer que ele é doente???? Crime de ódio não é doença. Homens misóginos não matam porque são doentes, matam porque querem demonstrar poder sobre as mulheres. Querem mostrar que "se eu não posso ninguém pode", querem dizer pro mundo que a vontade deles deve prevalecer e que uma mulher não tem o direito de negar a ele o que quer que seja. 

"Ah mas o cara que pensa assim só pode ser doente". NÃO! Dizer que um cara desses é doente é tirar a responsabilidade dele, é dizer que ele não tem discernimento, que ele não tem consciência do que faz, quando, na verdade, ele tem sim. E muita. 
Enquanto esse tipo de barbaridade for tratado como doença ou "crime passional", porque o pobre moço desprezado amava demais e blablabla as mulheres continuarão sendo vítimas de feminicídio. Até quando a mídia vai ignorar que essas atrocidades são crimes específicos contra mulheres. Não é porque "ama muito", ou, agora, porque "é doente", é gente que sabe muito bem o que faz. É o machismo fazendo mais e mais vítimas todos os dias.

Mais uma coisa: sei que todos têm direito a defesa (inclusive misóginos precisam de advogado), mas pra garantir que a pena aplicada seja justa (nesses casos onde a pessoa é realmente culpada e ré confessa) etc etc. Esse advogado do cara que quer a ABSOLVIÇÃO do indivíduo por causa dessa síndrome que foi criada por uma mente totalmente viajada, é, no mínimo, irresponsável, porque ele está abrindo um precedente. Agora todo cara que matar uma mulher vai alegar essa síndrome.

Fiquei com tanto ódio desse cara que, se eu cometer homicídio, será que aparece alguma advogada pra me defender usando a tese de "síndrome da MISANDRIA involuntária"????

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Caso Aranha e os discursos que (re)afirmam o racismo

Com certeza todo mundo viu a polêmica com o goleiro do Santos, o Aranha. Tava ele lá de boa fazendo que ele é pago pra fazer quando um grupo torcedores do time adversário (Grêmio, no caso), iniciaram uma série de insultos racistas. Aranha, como conhecedor de seus direitos direitos, reclamou para o árbitro que fez o que costuma ser feito em casos de racismo nos estádios: NADA. Após as reclamações do goleiro e uns instantes de jogo paralisado, mandou o jogo prosseguir. Apenas. Ao final da partida, o tal grupo de torcedores continuou com os insultos, e Aranha, lindamente, respondeu, batendo nos braços "sou preto sim". Se orgulha da cor e demonstra isso da melhor maneira possível: não aceitando o racismo.



As câmeras presentes no estádio filmaram o momento em que o grupo de racistas começou com os xingamentos preconceituosos e, principalmente, conseguiu focar bem no rosto de uma das torcedoras que proferiu os impropérios. A tal torcedora foi (e está sendo) achincalhada por milhares de pessoas. Já tentaram até colocar fogo na casa dela, ela chora, diz que está traumatizada, que não fez por querer etc etc. Não tinha só ela ali gritando aquele tipo de coisa, tinham muitos outros, ela acabou pagando o pato e está sofrendo a punição social por isso (não sou a favor de que ela sofra ameaças, nem que façam nada contra a integridade física ou psicológica da moça, já foi aberto inquérito policial para que ela e os demais torcedores sejam punidos) e sofrerá também a punição existente no Direito para isso. Ela e os outros racistas.
A questão aqui é: a reação das pessoas em relação a isso. Tenho acompanhado as notícias sobre o caso e o que percebo é como a moça vem sendo tratada como vítima. Sim, ela que chamou Aranha de macaco e ela quem está sendo tratada como vítima. Diz aos 4 ventos que não é racista, que "já ficou com um negro", mas, amiguinha, ficar com um negro não faz de você menos racista (qualquer um que estudou um mínimo de história do Brasil sabe que os senhores de escravos  tinham casos, à força na sua maioria, com as suas escravas. Negras). As desculpas são as mais esdrúxulas possíveis, até mesmo dizer que "foi no calor do momento mas não tinha a intenção de ofender ninguém". Oi? 
Li um negócio bem interessante no twitter, que meio que fala sobre a tal "inconsciência" do ato da moça.



 Não é uma desculpa pra atitude racista dela, mas algo pra mostrar o quanto a democracia racial que vivemos no Brasil é um mito. O racismo tá tão presente que as pessoas são racistas, mas nem se dão conta. Tanto que nas milhares de declarações dela, ela afirma que não é racista. Bom, se chamar um negro de macaco não é racismo, eu sinceramente não sei o que é.
A moça foi ao programa Encontro com Fátima Bernardes e aqui (leiam, por favor) dá pra ver o teor da ~atração matinal que, além de colocar apenas brancos pra discutir racismo, ficou procurando desculpas pro ato...racista da torcedora. Ridículo.
Pior ainda foi ver que o Pelé, grande jogador (já conhecido por falar muitas abobrinhas), disse que Aranha não deveria ter parado o jogo e que o racismo deve ser coibido, mas não nos estádios. Faz sentido? Nenhum. O Pelé, nem depois de velho, criou consciência de que ele também é negro e deveria repudiar a atitude dos torcedores que foram racistas e não do goleiro que parou o jogo pra ter garantido seu direito. Ele foi discriminado em razão da cor, sofreu injúrias raciais de um grupo de pessoas e quis que essas pessoas fossem punidas e o Pelé acha que ele tá errado? Por que não se pode coibir o racismo nos estádios? Por acaso o estádio é um lugar que fica num limbo onde todo mundo pode fazer o que quiser e ficar por isso mesmo? 
Não bastasse o Pelé, o nosso amado [ironia] Felipão também decidiu se pronunciar. Falando um monte de asneiras, claro. O infeliz falou que "queria ver se iam cair na esparrela do Aranha de novo". Esparrela? Ele acha mesmo que ser chamado de macaco, preto fedido é esparrela? Acha que alguém não sofre toda vez que é insultado pela cor de sua pele e que vai usar isso como armadilha pra seja lá que motivo? Tem que ser, no mínimo, tão racista quanto os ofensores de Aranha pra pensar isso.
O fato é que o racismo só vai acabar quando todos tiverem a mesma atitude de Aranha e exigirem punição. Injúria racial é crime e deve ser punido e foi o que ele fez. Não se deixou levar pelo senso comum de que "se ficar falando as pessoas não vão parar" porque é exatamente o oposto. Se ninguém falar nada e continuar aceitando como normal, o racismo vai continuar presente. 
Quase 2015 e ainda tem gente racista e, pior, gente que acha que racismo não existe

UPDATE: Ontem, 18.09.2014, teve mais um jogo entre Santos e Grêmio. Aranha foi vaiado insistentemente pela torcida gremista. Foi vaiado porque agora ele é o culpado pelas ofensas racistas que sofreu. Os racistas/imbecis torcedores acham que a culpa do Grêmio ter sido eliminado da Copa do Brasil foi culpa de Aranha. que não tinha o direito de se sentir ofendido com o que aconteceu. É a velha culpabilização da vítima, né. Se ele não fosse tão "sensível", nada disso teria acontecido. Absurdo. Pra essas pessoas, você que sofre racismo tem mais é que aceitar e ficar calado, né, afinal quem mandou ser preto. Por mim, tudo podia responder criminalmente. Aqui tem tudo o que aconteceu na partida de ontem, inclusive o repórter que, querendo se mostrar imparcial, prestou um desserviço pra sociedade.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

REFORÇANDO ESTERIÓTIPOS - Sexo e as Nega

Estava vendo a novela das 21h - adoro novelas, foi mal - quando, em uma das pausas para o comercial, vejo a globo (sempre ela) anunciando uma nova série chamada: Sexo e as Nega. Na hora eu pensei "opa! pera lá, eu ouvi certo? Vão botar no ar uma série (ou minissérie) chamada SEXO E AS NEGA??????". 




Tava com o meu namorado na hora (pessoa muito inteligente, sensata e que entende muito bem as injustiças sociais e etc) falou pra mim "como tu pode dizer que a série é racista se tu nem assistiu?"

Não precisa ser historiador pra saber que os senhores de escravos estupravam as escravas sempre que queriam manter relação. Quem já leu Casa Grande e Senzala, sabe. Pra quem se interessar, indico também a obra Entre a Luxúria e o Pudor - a historia do sexo no Brasil que fala de como os primeiros portugueses viam as índias e, mais tarde, de que maneira tratavam as escravas - utilizando-as como força de trabalho e brinquedo sexual pra fazer tudo aquilo que as esposas, brancas, não faziam. Assim, um ditado da época era "negra pra trabalhar, mulata pra foder e branca pra casar". 
Acabada a escravidão (que durou 350 anos), as mulheres negras e mulatas continuaram carregando esse esteriótipo de mulheres hipersexualizadas. Hoje, apenas têm espaço na mídia no carnaval do Rio de Janeiro (nao sei se o mesmo no de São Paulo) como as lindas e gostosas passistas, por que é o que elas são: gostosas. Aparecem apenas pra mostrar o corpo e depois são esquecidas até que chegue o próximo carnaval. Além disso, quando retratadas na TV, sempre representam a mulher extremamente sensual que é rainha de bateria, ou empregada doméstica (e ainda tem aquelas que fazem a empregada doméstica extremamente sensual, o que lembra a escravidão, né). Muito raro um papel de protagonista ou que não trabalhe em serviços em que não exigem alto grau de qualificação técnica. Ninguém é menos digna por executar tais serviços, de forma alguma, mas sabemos que hoje as mulheres negras têm muito mais espaço, podem ser médicas, advogadas, engenheiras...o que quiserem! Mas não é como costumam ser representadas na TV...o esteriótipo de pessoa que sempre estará na classe mais baixa da sociedade segue reforçado diariamente pela grande mídia.
Aí, pelo que vi do comercial: esse nome racista e machista mais 4 mulheres faveladas, que têm subemprego.....tem como pensar que "o conteúdo é bom"? Não mesmo. Nem precisei assistir pra saber.
No dia seguinte, vi na internet notícias de que já havia 7 denúncias contra o programa, todos feitos por movimentos negros. Vi textos em blogs, cartas aberta e tudo mais sugerido até mesmo um boicote ao programa.Fiquei muito feliz em saber que eu, mulher parda, apesar de não sentir exatamente o peso que é carregar todo esse estigma, consegui visualizar a problemática da situação. 
Então, não, eu não preciso assistir pra saber que o programa será uma porcaria e só servirá pra reforçar os esteriótipos já existentes.

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O autor, Miguel Falabella, se defende das acusações dando declarações absurdas. Fala, ainda, que está empregando e dando oportunidade para atores e atrizes negras que dificilmente conseguem espaço. Sim, atores e atrizes negros quase nunca conseguem espaço na mídia, pouquíssimos conseguem chegar ao status de não precisar fazer os papéis de sempre, mas fazer uma séria inspirada em Sex and the City (famoso seriado norte-americano cuja ideia central consiste em contar a vida e aventuras de 4 mulheres brancas e ricas de Nova York) e colocar 4 negras pra fazer os papéis de sempre (faveladas, subemprego) e ainda colocar que vão transar muito é uma oportunidade que serve única e exclusivamente para, repito, reforçar esteriótipos que essas pessoas já carregam no seu dia-a-dia. 



P.S: meu namorado acabou entendendo e concordando porque, nesse caos pelo menos, não havia nada de errado em pré julgar.
PPS: aquiaqui e aqui 3 blogs com textos maravilhosos sobre

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Quem é você no facebook?

Ah, o Facebook, sempre ele - seus usuários, na verdade - que, ao que parece, a maioria é constituída por reacionários, ultra-conservadores que insistem em impor sua moral a todos independente de qualquer coisa.
Hoje a discussão se deu pq uma colega (de feminismo, inclusive) compartilhou a seguinte charge:



Um  machista-reacionário-sem noção foi lá deixar sua opinião, claro e, além fugir TOTALMENTE do que a charge tratava (a diferença de tratamento entre homens que abandonam mulheres grávidas x mulheres que abortam) e começou a se colocar totalmente o aborto, por que é matar uma vida e blablabla. Tirei um prints pq ne não poderia perder a oportunidade:


"Tem até na cantina da UNIR" (Unir - Universidade Federal de Rondônia - não parece, mas é). Ora, como universidade federal qualquer pessoa com um mínimo de consciência, sei lá, social, sabe que, apesar do nome, ela não é universal, muito pelo contrário, é um ambiente bem restrito. Mas vamos lá pq tem mais:

"A questão da escolha é mais da mulher é ela quem escolhe se vai conceber ou não a criança". Uma pessoa dessas não sabe que não se faz sexo apenas com o intuito de procriar, ne, ALÉM DISSO, aparentemente ele acredita que a mulher controla os seus óvulos, tipo "ei não deixem o o espermatozoide fecundar hein heuheue". A responsabilidade da contracepção é: dos dois! Diferente do que o colega pensa, não é porque as mulheres carregam o maior ônus de uma gestação que devem ser as únicas preocupadas. Afinal, o pai também tem responsabilidades, como a de não abandonar o filho, tendo a obrigação legal de garantir, no mínimo, o sustento material. Prossigamos (sim,há mais absurdos):

"Esse argumento utilitarista justifica também que se prendam todos os homens negros e pobres pq são mais propensos a pratica crimes". Olha só até onde vai o pensamento desse ser humano. Compara duas coisas que não têm relação alguma. Ah! Só pra que todos entendam, o argumento utilitarista a que ele se refere é um que eu coloquei no comentário logo acima, dizendo que ser favorável ao aborto não quer necessariamente dizer que é legal abortar, que as pessoas acham bacana e o máximo, mas que a legalização vem pra proteger vidas, uma vez que manter a conduta criminalizada faz com que além de perder a vida do feto (há discussões na ciência sobre o início da vida), milhares de mulheres  morrem por terem que realizar o procedimento em clínicas clandestinas ou mesmo em casa; também disse que as mulheres com alto poder aquisitivo podem pagar para q o procedimento seja feito de forma um pouco mais segura ou até mesmo viajar até um país onde seja legalizado. De toda forma, ser a favor da regulamentação da prática é a opção que salva mais vida (vide países que optaram por isso). P.S: o comentário abaixo não está escondendo a identidade da pessoa pq euzinha quem fiz. Prosseguindo:


Sim, ele falou em "aborto de crianças nascidas e de até 18 anos". A menos que uma gestação possa durar 18 anos, acho que abortar alguém de 18 anos seja difícil, ne, mas é claro que ele não fala por que diz claramente "ABORTO DE CRIANÇA NASCIDA". Olha, até onde eu sei, depois que nasceu não tem mais como abortar, né. Bom, não sei, mas se ele pensa ser possível o aborto de alguém de 18 anos, talvez o medo dele seja que ainda dê tempo de abortá-lo.

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Nesse post aqui a feminista cansada disse tudo o que precisava ser dito. Optar pela legalização do aborto é optar pelo caminho que salva mais vidas.
Lendo tudo o que o rapaz escreveu, eu pensei, bem triste, no quanto é triste a imposição de valores. Eu tenho uma religião que toda a minha família segue. Por motivos de acreditar no que ela ensina, eu, pessoalmente, não faria um aborto e se uma amiga/colega/conhecida viesse me perguntar À LUZ DA RELIGIÃO QUE EU SIGO, eu diria o que penso enquanto pessoa religiosa, tirando essa situação, não posso querer convencer ninguém a fazer ou deixar de fazer algo baseado numa crença minha. Seria absurdo o contrário e é o que percebo em muitas pessoas. Ninguém tem que acreditar ou aceitar os dogmas religiosos de outrem. Se você é contra, não faça. Apenas.
Também fiquei intrigada com a convicção com que o colega afirma que a vida se inicia no momento da concepção. Até os cientistas divergem nesse ponto, como ele pode ter tanta certeza (ele não é médico e nem faz medicina. Tenho o desprazer de ser sua colega de curso. Felizmente não de classe)? Sabe-se que, hoje em dia, legalmente falando, a vida termina com o fim da atividade cerebral, ou seja, mesmo que os demais órgãos estejam em funcionamento, se o cérebro parar, a pessoa deve ser declarada morta e seus órgãos podem ser doados para muitas pessoas que estão na fila de espera dos transplantes! Ora, se o final da vida se dá com o término da atividade cerebral, o começo dela se dá com o início da atividade cerebral que vai ocorrer depois do terceiro mês de gestação. Utilizando-se desse parâmetro, um aborto até o terceiro mês de gestação não estaria tirando nenhuma vida e, até onde eu sei, os médicos brasileiros sugerem que a interrupção da gravidez se dê até o 3º mês. 
"Ah mas o nascituro têm os direitos garantidos pelo Código Civil Brasileiro". Quem se interessar e decidir ler sobre o tema, encontrará uma doutrina que diverge muito sobre o tema! O legislador garantiu sim os direitos do nascituro (criando para assegurá-los até mesmo uma Lei de Alimentos Gravídicos), mas a maioria deles só podem ser exercidos após o nascimento com vida. 
Quanto a descriminalização não precisa ser especialista em direito penal pra saber que o tipo penal do aborto não tem eficácia alguma. Ele está lá no Código Penal, mas o número de denúncias que ele gera é quase ínfimo. Tipo o adultério que no Brasil foi considerado crime até o ano de 2006, um verdadeiro despropósito. O que o direito penal tem a ver com infidelidade conjugal? A mesma coisa: o que o direito penal tem a ver com o útero das mulheres. Nada 
O Estado, ao manter a conduta criminalizada, fecha os olhos para milhares de mulheres que morrem anualmente. Legalizar (e regulamentar, claro), não é um incentivo ao aborto, pelo contrário, pq junto com a legalização deve vir consicentização. Educação sexual nas escolas, em casa, parar de tratar sexo como tabu. Já que nas atuais gerações não se conversa em família sobre o tema, é importante que a escola faça isso para que as gerações que em breve estarão tendo seus próprios filhos, saibam da importância do diálogo sobre o tema.
E: os argumentos dele todos são, além de moralistas, machistas (se é que dá pra separar uma coisa da outra). Ele mostrava isso todas as vezes que tentava impor não só o seu modo de pensar, mas também como a discussão (tinha duas outras amigas argumentando) da maneira q ele achasse melhor, usando expressões do tipo "fale assim", "nao fale assado", usando bem esse tom impositivo mesmo.


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

MACHISMO NAS ELEIÇÕES 2014

Hoje no trabalho uma pessoa falou:
- Não acredito que tem isso tudo de gente votando na Marina...comprando o discurso dela.
Como a conversa não era comigo, apenas pensei "ah alguém que enxerga as contradições", mas eis que ela completa a frase com:
- Uma mulher daquelas..feia, não se maquia, eu acho que nem se depilar ela depila. Vocês podem até achar que é preconceito, mas não é...
Completei com "é MACHISMO mesmo" (sou dessas que se metem na conversa alheia quando percebo comentários desse tipo), e voltei pra minha sala.
O assunto continuou com "se uma mulher não cuida da própria aparência, como vai cuidar de um país?" e outros blablablas.
Fico pensando: cadê a CONSCIÊNCIA POLÍTICA de uma pessoa que justifica um (não) voto dessa maneira? 
Eu tenho milhares de motivos pra não votar na Marina. Comecei com poucos, sim, mas esses poucos foram aumentando conforme fui vendo as contradições do discurso da candidata em questão, mas NENHUM deles envolve a aparência dela.
Em que a aparência dela vai influenciar na forma de governar, caso eleita? Respondo: em NADA. Isso porque competência não tem nada a ver com aparência. A ideia de que a mulher tem que ser bonita (por "bonita", entendam que se encaixa no atual padrão de beleza ocidental) continua na cabeça das pessoas...aquela velha ideia machista de que as mulheres são meros adereços e, se não conseguem nem fazer o papel de enfeite direito (que na cabeça dessas pessoas é o papel básico de toda mulher), quiçá *qualquer outra coisa*. Triste e revoltante saber que em 2014 ainda tem gente pensando isso. Pior, saber que existem mulheres que pensam assim.
E  a ideia está tão arraigada que as pessoas acham completamente normal esse tipo de pensamento. Essa ideia de que a se a mulher não se maquia, não "se arruma", não veste "roupas bonitas" é de um machismo tremendo. Ninguém fala que não vai votar num candidato homem pq ele não se depila, pq não se maquia, pq não é bonito. Pode ser que não utilizem as melhores justificativas, mas não se escuta falar da aparência.
 Lembro de 2010 que muitas pessoas falavam do quanto a Dilma é feia, horrorosa, deveria melhorar etc etc (e falam até hoje). Também hoje muitas pessoas têm motivos pra não votar na Dilma (eu mesma, apesar de já ter declarado meu voto nela, fiquei meio na dúvida pq não concordo com algumas coisas), mas aparência? 

Então, antes de votar, melhor pensar, ler, pesquisar e refletir pra saber pq vota e pq não vota. E, por favor, na hora de analisar as candidatAs, por favor, propostas de governo, alianças, discursos são DIFERENTES de colocações machistas como as que versam sobre aparência.
Tá mais do que na hora de acabar com ideias do tipo. 
MULHERES NÃO SÃO ADEREÇOS!!! 

quarta-feira, 2 de julho de 2014

se eras tão inteligente pq não fazes uma pesquisa antes de compartilhar hoax como se fosse verdade?

JULHO DE 2014 E AINDA TEM GENTE COMPARTILHANDO HOAX DE BOLSA-PROSTITUTA..............

A menina (menina não, ne, menina sou eu, deve ter uns 30 já) compartilha a falsa notícia de que está em votação o "bolsa-prostituta" sem deixar de, claro, fazer um discurso inflamado contra. Diz que é pós-graduada, está fazendo mestrado, se mata de trabalhar e estudar pra ~~~~~ter uma vida digna. 
Eu vejo essas coisas e me revolto. Sério. Qualquer pessoa pode ter N motivos pra ser contra bolsa-prostituta, mas é claro que a maioria vai atacar quem? As prostitutas. O falatório é sempre o mesmo de "eu estudo e trabalho e gente que fica com safadeza blablabla eu me esforço pra ser digna mimimi"....olha, quero informar a qualquer um que pense assim que: A DIGNIDADE É UM ATRIBUTO INERENTE AO SER HUMANO, logo, seja você um magistrado, um professor universitário com doutorado, engenheiro, arquiteto, pedreiro, gari, empregada doméstica ou profissional do sexo, você tem dignidade. Dignidade esta que deve ser protegida e preservada de quaisquer eventuais violações, proteção garantida pela nossa própria Constituição Federal.
Entendam: não é pq uma mulher (ou homem) presta serviços sexuais que ela é indigna, a dignidade dela não pode jamais ser retirada pela profissão que ela exerce (sim, desinformados, a prostituição é profissão reconhecida pela Ministério do Trabalho e Emprego), o que pode ocorrer é a violação dessa dignidade a partir do momento que Estado e sociedade fecham os olhos para a existência desses profissionais, negando direitos humanos básicos.
P.S: geralmente quem compartilha esse tipo de notícia falsa faz questão de dizer que é graduado, mestrando ou que já é mestre, que exerce a profissão X (geralmente algo que requer formação acadêmica), então vamos combinar que têm muito acesso a informação e, se têm acesso, pq não usam isso pra pesquisar? Pq não utilizam todo o conhecimento que fazem questão mostrar para fazer uma simples pesquisa em sites de busca pra verificar a veracidade desses absurdos compartilhados? Seria uma boa, ne, dar uma olhada no site do Senado também é uma ideia.