segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Não serei tolerante com os intolerantes

Ontem, 28.09.2014, no debate entre os candidatos a presidência da República promovido pela Record, Levy Fidelix disse abertamente, reportando-se aos homossexuais, que "devem ser tratados bem longe" dele; disse que "aparelho excretor não reproduz"; afirmou categoricamente "nós, que somos maioria, devemos combater a minoria".
Quando um CANDIDATO A PRESIDÊNCIA, (ainda que seja um que não tem a menor possibilidade de vencer) fala abertamente em rede nacional que "a maioria deve combater a minoria", claramente um inflamado discurso de ódio à comunidade LGBT. "Combater"? o que ele quis dizer com isso? Pra mim, pareceu querer dizer que devemos lutar contra/extinguir. Vocês sabem quem mais quis extinguir uma minoria porque sentia-se pertencente a uma raça superior? Hitler.

Não bastasse o dito candidato falar todos aqueles absurdos, ainda encontrei gente que defende. Postei lá na ~rede social do mal~ que pelas suas declarações, agora sabemos que não é apenas o candidato Everaldo (que sempre se mostrou intolerante à causa LGBT) que é desprezível. E aparece alguém pra defendê-lo. Sim, acreditem. Um homem usa seu espaço na TV para dizer que a comunidade LGBT precisa de tratamento bem longe (é tipo um apartheid, com a política de segregação, combinada com nazismo que acreditava na tal supremacia das raças e buscava o aperfeiçoamento desta através de tratamentos médicos e etc), associa a homossexualidade à pedofilia (outro absurdo que demonstra a total ignorância e idiotice do cara), fala que essas pessoas devem ser combatidas e  tem gente que fala em liberdade de expressão. "É a opinião dele, temos que respeitar". Não, não temos que respeitar esse tipo de opinião.

Nenhum direito fundamental é absoluto, nem o direito à vida, imagine o direito à liberdade de expressão. O direito de você expressar sua opinião tem limites e esse limite é: o direito das outras pessoas. Ora, o dito cujo não respeitou, de maneira alguma, a comunidade LGBT ao dizer que eles precisam de tratamento, associar a pedofilia e incitar que sejam exterminados, então pq ele deveria ser respeitado? Incitar ódio a uma parcela já socialmente marginalizada não é direito à liberdade de expressão, é pura e simples demonstração de intolerância. Intolerância essa que exclui, marginaliza, priva de direitos e mata.

Não serei tolerante com os intolerantes. Isso pq esses intolerantes, esses mesmos que defendem a restrição de direitos a determinados grupos em razão de etnia, orientação sexual, gênero, ou seja lá qual motivo, só são intolerantes pq, adivinhem só, eles já têm todos os direitos que poderiam. Não são marginalizados, não são excluídos, não são mortos por suas preferências, por sua cor, por orientação sexual. E infelizmente eles usam o poder que têm para manter esses direitos fundamentais - inerente a todas as PESSOAS - como privilégios. Esse tipo de gente mesquinha, egoísta, sem noção, acha que dignidade deve ser privilégio de seus iguais.
Direitos são...direitos. Todo ser humano merece que sejam respeitados, protegidos e, de forma nenhuma, diminuídos.

Ser contra o casamento civil igualitário não faz de você, necessariamente, um homofóbico. Você pode ser contra  o casamento homossexual não se casando com uma pessoa do mesmo sexo. Mas se você, por ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, acha correto que o Estado restrinja o direito das pessoas que decidem fazer isso, mesmo que você nunca tenha dado lampadada na cara de um homo/bi/transexual, você é homofóbico. Ser favorável a restrição de direitos de um grupo simplesmente porque você discorda deles, é ser intolerante. 

O que me deixou abismada, além do discurso de ódio proferido em rede nacional, foi que a candidata que havia feito a pergunta a Levy sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ficou calada pros impropérios ditos pelo bigodudo. Em sua réplica, poderia ter sido mais enfática e combativa como costuma ser em suas respostas, ela poderia ter falado abertamente sobre a incitação de ódio que ele estava fazendo, apologia à intolerância, mas não. Muitos a defenderam dizendo que ela pode ter ficado chocada com tanta coisa estapafúrdia que foi dita. Sim, pode ser. Eu mesma (e creio que todo mudo) demorou uns minutos para processar aquilo que foi dito, mas os candidatos devem estar preparados para responder esse tipo de declaração absurda. Ainda mais que, no último bloco, depois do intervalo, ela teve tempo de pensar e poderia usar seus minutos finais pra combater esse tipo de pensamento. Infelizmente não foi o que aconteceu, não apenas Luciana, mas NENHUM dos candidatos ali presentes se pronunciou, todos preferiram silenciar. E o silêncio, assim como o discurso do homem, foi doloroso.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

SÍNDROME DA MISOGINIA INVOLUNTÁRIA - Desculpa para absolvição dos crimes de ódio

Estava eu ontem no Twitter quando vi uma galera falando em "Síndrome da Misoginia Involuntária". Falando do absurdo que é isso, claro. As pessoas comentavam a respeito de uma tese de defesa de um advogado, cujo cliente foi condenado, que era basicamente: o cara matou uma mulher (professora dele) porque sofre dessa tal Síndrome da Misoginia Involuntária, doença que o levaria a sentir ódio pelo sexo feminino, levando ao extremo de assassinar, mas é inimputável, porque doente o coitado [ironia], né.
Achei isso um absurdo sem tamanho e fiquei sem entender de onde saiu essa síndrome e quem falou pra esse advogado que ela existe ou, ainda, se foi esse irresponsável que inventou ela. Joguei no Google "síndrome da misoginia involuntária" e encontrei um texto, não oficial, de um blog pessoal qualquer, que datava de 2007!!!! É muito absurdo o que diz lá, então não vou passar o link, mas nesse texto diz: 

          (...)mas há uma forma muito mais branda, porém não menos nociva, da misoginia. É a SMI, que geralmente ataca rapazes tímidos e sensíveis e se manifesta depois de decepções amorosas. Não qualquer decepção, claro; tem de ser traumática, humilhante, daquelas que escorcham com a auto-estima do cidadão. O requinte final, que enraiza a SMI mais fundo na alma, são os discursos femininos do tipo “Ah, Fulano é como se fosse meu irmãozinho…”, “Eu gosto de você, mas não ‘desse’ jeito…” e o clássico “Mas a gente é só amigo…”. Destroçado qual um personagem de letra de bolero, o rapaz sente um desejo atávico de mandar à merda tudo quanto é mulher que cruzar seu caminho".


Tipo assim: OI? Rapazes tímidos e sensíveis??? Pra mim, parece aquele cara que ficou na chamada "friendzone" (termo que detesto, mas não é o caso aqui) e achou terrível ser dispensado. O tipo de cara mimado que não aceita "não" como resposta e aí mata as mulheres que supostamente o desprezaram - como se toda mulher que falasse com um cara tivesse obrigação de querer fazer sexo com ele e/ou ter um relacionamento amoroso - aí um cara faz isso e vem uma galera dizer que ele é doente???? Crime de ódio não é doença. Homens misóginos não matam porque são doentes, matam porque querem demonstrar poder sobre as mulheres. Querem mostrar que "se eu não posso ninguém pode", querem dizer pro mundo que a vontade deles deve prevalecer e que uma mulher não tem o direito de negar a ele o que quer que seja. 

"Ah mas o cara que pensa assim só pode ser doente". NÃO! Dizer que um cara desses é doente é tirar a responsabilidade dele, é dizer que ele não tem discernimento, que ele não tem consciência do que faz, quando, na verdade, ele tem sim. E muita. 
Enquanto esse tipo de barbaridade for tratado como doença ou "crime passional", porque o pobre moço desprezado amava demais e blablabla as mulheres continuarão sendo vítimas de feminicídio. Até quando a mídia vai ignorar que essas atrocidades são crimes específicos contra mulheres. Não é porque "ama muito", ou, agora, porque "é doente", é gente que sabe muito bem o que faz. É o machismo fazendo mais e mais vítimas todos os dias.

Mais uma coisa: sei que todos têm direito a defesa (inclusive misóginos precisam de advogado), mas pra garantir que a pena aplicada seja justa (nesses casos onde a pessoa é realmente culpada e ré confessa) etc etc. Esse advogado do cara que quer a ABSOLVIÇÃO do indivíduo por causa dessa síndrome que foi criada por uma mente totalmente viajada, é, no mínimo, irresponsável, porque ele está abrindo um precedente. Agora todo cara que matar uma mulher vai alegar essa síndrome.

Fiquei com tanto ódio desse cara que, se eu cometer homicídio, será que aparece alguma advogada pra me defender usando a tese de "síndrome da MISANDRIA involuntária"????

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Caso Aranha e os discursos que (re)afirmam o racismo

Com certeza todo mundo viu a polêmica com o goleiro do Santos, o Aranha. Tava ele lá de boa fazendo que ele é pago pra fazer quando um grupo torcedores do time adversário (Grêmio, no caso), iniciaram uma série de insultos racistas. Aranha, como conhecedor de seus direitos direitos, reclamou para o árbitro que fez o que costuma ser feito em casos de racismo nos estádios: NADA. Após as reclamações do goleiro e uns instantes de jogo paralisado, mandou o jogo prosseguir. Apenas. Ao final da partida, o tal grupo de torcedores continuou com os insultos, e Aranha, lindamente, respondeu, batendo nos braços "sou preto sim". Se orgulha da cor e demonstra isso da melhor maneira possível: não aceitando o racismo.



As câmeras presentes no estádio filmaram o momento em que o grupo de racistas começou com os xingamentos preconceituosos e, principalmente, conseguiu focar bem no rosto de uma das torcedoras que proferiu os impropérios. A tal torcedora foi (e está sendo) achincalhada por milhares de pessoas. Já tentaram até colocar fogo na casa dela, ela chora, diz que está traumatizada, que não fez por querer etc etc. Não tinha só ela ali gritando aquele tipo de coisa, tinham muitos outros, ela acabou pagando o pato e está sofrendo a punição social por isso (não sou a favor de que ela sofra ameaças, nem que façam nada contra a integridade física ou psicológica da moça, já foi aberto inquérito policial para que ela e os demais torcedores sejam punidos) e sofrerá também a punição existente no Direito para isso. Ela e os outros racistas.
A questão aqui é: a reação das pessoas em relação a isso. Tenho acompanhado as notícias sobre o caso e o que percebo é como a moça vem sendo tratada como vítima. Sim, ela que chamou Aranha de macaco e ela quem está sendo tratada como vítima. Diz aos 4 ventos que não é racista, que "já ficou com um negro", mas, amiguinha, ficar com um negro não faz de você menos racista (qualquer um que estudou um mínimo de história do Brasil sabe que os senhores de escravos  tinham casos, à força na sua maioria, com as suas escravas. Negras). As desculpas são as mais esdrúxulas possíveis, até mesmo dizer que "foi no calor do momento mas não tinha a intenção de ofender ninguém". Oi? 
Li um negócio bem interessante no twitter, que meio que fala sobre a tal "inconsciência" do ato da moça.



 Não é uma desculpa pra atitude racista dela, mas algo pra mostrar o quanto a democracia racial que vivemos no Brasil é um mito. O racismo tá tão presente que as pessoas são racistas, mas nem se dão conta. Tanto que nas milhares de declarações dela, ela afirma que não é racista. Bom, se chamar um negro de macaco não é racismo, eu sinceramente não sei o que é.
A moça foi ao programa Encontro com Fátima Bernardes e aqui (leiam, por favor) dá pra ver o teor da ~atração matinal que, além de colocar apenas brancos pra discutir racismo, ficou procurando desculpas pro ato...racista da torcedora. Ridículo.
Pior ainda foi ver que o Pelé, grande jogador (já conhecido por falar muitas abobrinhas), disse que Aranha não deveria ter parado o jogo e que o racismo deve ser coibido, mas não nos estádios. Faz sentido? Nenhum. O Pelé, nem depois de velho, criou consciência de que ele também é negro e deveria repudiar a atitude dos torcedores que foram racistas e não do goleiro que parou o jogo pra ter garantido seu direito. Ele foi discriminado em razão da cor, sofreu injúrias raciais de um grupo de pessoas e quis que essas pessoas fossem punidas e o Pelé acha que ele tá errado? Por que não se pode coibir o racismo nos estádios? Por acaso o estádio é um lugar que fica num limbo onde todo mundo pode fazer o que quiser e ficar por isso mesmo? 
Não bastasse o Pelé, o nosso amado [ironia] Felipão também decidiu se pronunciar. Falando um monte de asneiras, claro. O infeliz falou que "queria ver se iam cair na esparrela do Aranha de novo". Esparrela? Ele acha mesmo que ser chamado de macaco, preto fedido é esparrela? Acha que alguém não sofre toda vez que é insultado pela cor de sua pele e que vai usar isso como armadilha pra seja lá que motivo? Tem que ser, no mínimo, tão racista quanto os ofensores de Aranha pra pensar isso.
O fato é que o racismo só vai acabar quando todos tiverem a mesma atitude de Aranha e exigirem punição. Injúria racial é crime e deve ser punido e foi o que ele fez. Não se deixou levar pelo senso comum de que "se ficar falando as pessoas não vão parar" porque é exatamente o oposto. Se ninguém falar nada e continuar aceitando como normal, o racismo vai continuar presente. 
Quase 2015 e ainda tem gente racista e, pior, gente que acha que racismo não existe

UPDATE: Ontem, 18.09.2014, teve mais um jogo entre Santos e Grêmio. Aranha foi vaiado insistentemente pela torcida gremista. Foi vaiado porque agora ele é o culpado pelas ofensas racistas que sofreu. Os racistas/imbecis torcedores acham que a culpa do Grêmio ter sido eliminado da Copa do Brasil foi culpa de Aranha. que não tinha o direito de se sentir ofendido com o que aconteceu. É a velha culpabilização da vítima, né. Se ele não fosse tão "sensível", nada disso teria acontecido. Absurdo. Pra essas pessoas, você que sofre racismo tem mais é que aceitar e ficar calado, né, afinal quem mandou ser preto. Por mim, tudo podia responder criminalmente. Aqui tem tudo o que aconteceu na partida de ontem, inclusive o repórter que, querendo se mostrar imparcial, prestou um desserviço pra sociedade.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

REFORÇANDO ESTERIÓTIPOS - Sexo e as Nega

Estava vendo a novela das 21h - adoro novelas, foi mal - quando, em uma das pausas para o comercial, vejo a globo (sempre ela) anunciando uma nova série chamada: Sexo e as Nega. Na hora eu pensei "opa! pera lá, eu ouvi certo? Vão botar no ar uma série (ou minissérie) chamada SEXO E AS NEGA??????". 




Tava com o meu namorado na hora (pessoa muito inteligente, sensata e que entende muito bem as injustiças sociais e etc) falou pra mim "como tu pode dizer que a série é racista se tu nem assistiu?"

Não precisa ser historiador pra saber que os senhores de escravos estupravam as escravas sempre que queriam manter relação. Quem já leu Casa Grande e Senzala, sabe. Pra quem se interessar, indico também a obra Entre a Luxúria e o Pudor - a historia do sexo no Brasil que fala de como os primeiros portugueses viam as índias e, mais tarde, de que maneira tratavam as escravas - utilizando-as como força de trabalho e brinquedo sexual pra fazer tudo aquilo que as esposas, brancas, não faziam. Assim, um ditado da época era "negra pra trabalhar, mulata pra foder e branca pra casar". 
Acabada a escravidão (que durou 350 anos), as mulheres negras e mulatas continuaram carregando esse esteriótipo de mulheres hipersexualizadas. Hoje, apenas têm espaço na mídia no carnaval do Rio de Janeiro (nao sei se o mesmo no de São Paulo) como as lindas e gostosas passistas, por que é o que elas são: gostosas. Aparecem apenas pra mostrar o corpo e depois são esquecidas até que chegue o próximo carnaval. Além disso, quando retratadas na TV, sempre representam a mulher extremamente sensual que é rainha de bateria, ou empregada doméstica (e ainda tem aquelas que fazem a empregada doméstica extremamente sensual, o que lembra a escravidão, né). Muito raro um papel de protagonista ou que não trabalhe em serviços em que não exigem alto grau de qualificação técnica. Ninguém é menos digna por executar tais serviços, de forma alguma, mas sabemos que hoje as mulheres negras têm muito mais espaço, podem ser médicas, advogadas, engenheiras...o que quiserem! Mas não é como costumam ser representadas na TV...o esteriótipo de pessoa que sempre estará na classe mais baixa da sociedade segue reforçado diariamente pela grande mídia.
Aí, pelo que vi do comercial: esse nome racista e machista mais 4 mulheres faveladas, que têm subemprego.....tem como pensar que "o conteúdo é bom"? Não mesmo. Nem precisei assistir pra saber.
No dia seguinte, vi na internet notícias de que já havia 7 denúncias contra o programa, todos feitos por movimentos negros. Vi textos em blogs, cartas aberta e tudo mais sugerido até mesmo um boicote ao programa.Fiquei muito feliz em saber que eu, mulher parda, apesar de não sentir exatamente o peso que é carregar todo esse estigma, consegui visualizar a problemática da situação. 
Então, não, eu não preciso assistir pra saber que o programa será uma porcaria e só servirá pra reforçar os esteriótipos já existentes.

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O autor, Miguel Falabella, se defende das acusações dando declarações absurdas. Fala, ainda, que está empregando e dando oportunidade para atores e atrizes negras que dificilmente conseguem espaço. Sim, atores e atrizes negros quase nunca conseguem espaço na mídia, pouquíssimos conseguem chegar ao status de não precisar fazer os papéis de sempre, mas fazer uma séria inspirada em Sex and the City (famoso seriado norte-americano cuja ideia central consiste em contar a vida e aventuras de 4 mulheres brancas e ricas de Nova York) e colocar 4 negras pra fazer os papéis de sempre (faveladas, subemprego) e ainda colocar que vão transar muito é uma oportunidade que serve única e exclusivamente para, repito, reforçar esteriótipos que essas pessoas já carregam no seu dia-a-dia. 



P.S: meu namorado acabou entendendo e concordando porque, nesse caos pelo menos, não havia nada de errado em pré julgar.
PPS: aquiaqui e aqui 3 blogs com textos maravilhosos sobre

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Quem é você no facebook?

Ah, o Facebook, sempre ele - seus usuários, na verdade - que, ao que parece, a maioria é constituída por reacionários, ultra-conservadores que insistem em impor sua moral a todos independente de qualquer coisa.
Hoje a discussão se deu pq uma colega (de feminismo, inclusive) compartilhou a seguinte charge:



Um  machista-reacionário-sem noção foi lá deixar sua opinião, claro e, além fugir TOTALMENTE do que a charge tratava (a diferença de tratamento entre homens que abandonam mulheres grávidas x mulheres que abortam) e começou a se colocar totalmente o aborto, por que é matar uma vida e blablabla. Tirei um prints pq ne não poderia perder a oportunidade:


"Tem até na cantina da UNIR" (Unir - Universidade Federal de Rondônia - não parece, mas é). Ora, como universidade federal qualquer pessoa com um mínimo de consciência, sei lá, social, sabe que, apesar do nome, ela não é universal, muito pelo contrário, é um ambiente bem restrito. Mas vamos lá pq tem mais:

"A questão da escolha é mais da mulher é ela quem escolhe se vai conceber ou não a criança". Uma pessoa dessas não sabe que não se faz sexo apenas com o intuito de procriar, ne, ALÉM DISSO, aparentemente ele acredita que a mulher controla os seus óvulos, tipo "ei não deixem o o espermatozoide fecundar hein heuheue". A responsabilidade da contracepção é: dos dois! Diferente do que o colega pensa, não é porque as mulheres carregam o maior ônus de uma gestação que devem ser as únicas preocupadas. Afinal, o pai também tem responsabilidades, como a de não abandonar o filho, tendo a obrigação legal de garantir, no mínimo, o sustento material. Prossigamos (sim,há mais absurdos):

"Esse argumento utilitarista justifica também que se prendam todos os homens negros e pobres pq são mais propensos a pratica crimes". Olha só até onde vai o pensamento desse ser humano. Compara duas coisas que não têm relação alguma. Ah! Só pra que todos entendam, o argumento utilitarista a que ele se refere é um que eu coloquei no comentário logo acima, dizendo que ser favorável ao aborto não quer necessariamente dizer que é legal abortar, que as pessoas acham bacana e o máximo, mas que a legalização vem pra proteger vidas, uma vez que manter a conduta criminalizada faz com que além de perder a vida do feto (há discussões na ciência sobre o início da vida), milhares de mulheres  morrem por terem que realizar o procedimento em clínicas clandestinas ou mesmo em casa; também disse que as mulheres com alto poder aquisitivo podem pagar para q o procedimento seja feito de forma um pouco mais segura ou até mesmo viajar até um país onde seja legalizado. De toda forma, ser a favor da regulamentação da prática é a opção que salva mais vida (vide países que optaram por isso). P.S: o comentário abaixo não está escondendo a identidade da pessoa pq euzinha quem fiz. Prosseguindo:


Sim, ele falou em "aborto de crianças nascidas e de até 18 anos". A menos que uma gestação possa durar 18 anos, acho que abortar alguém de 18 anos seja difícil, ne, mas é claro que ele não fala por que diz claramente "ABORTO DE CRIANÇA NASCIDA". Olha, até onde eu sei, depois que nasceu não tem mais como abortar, né. Bom, não sei, mas se ele pensa ser possível o aborto de alguém de 18 anos, talvez o medo dele seja que ainda dê tempo de abortá-lo.

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Nesse post aqui a feminista cansada disse tudo o que precisava ser dito. Optar pela legalização do aborto é optar pelo caminho que salva mais vidas.
Lendo tudo o que o rapaz escreveu, eu pensei, bem triste, no quanto é triste a imposição de valores. Eu tenho uma religião que toda a minha família segue. Por motivos de acreditar no que ela ensina, eu, pessoalmente, não faria um aborto e se uma amiga/colega/conhecida viesse me perguntar À LUZ DA RELIGIÃO QUE EU SIGO, eu diria o que penso enquanto pessoa religiosa, tirando essa situação, não posso querer convencer ninguém a fazer ou deixar de fazer algo baseado numa crença minha. Seria absurdo o contrário e é o que percebo em muitas pessoas. Ninguém tem que acreditar ou aceitar os dogmas religiosos de outrem. Se você é contra, não faça. Apenas.
Também fiquei intrigada com a convicção com que o colega afirma que a vida se inicia no momento da concepção. Até os cientistas divergem nesse ponto, como ele pode ter tanta certeza (ele não é médico e nem faz medicina. Tenho o desprazer de ser sua colega de curso. Felizmente não de classe)? Sabe-se que, hoje em dia, legalmente falando, a vida termina com o fim da atividade cerebral, ou seja, mesmo que os demais órgãos estejam em funcionamento, se o cérebro parar, a pessoa deve ser declarada morta e seus órgãos podem ser doados para muitas pessoas que estão na fila de espera dos transplantes! Ora, se o final da vida se dá com o término da atividade cerebral, o começo dela se dá com o início da atividade cerebral que vai ocorrer depois do terceiro mês de gestação. Utilizando-se desse parâmetro, um aborto até o terceiro mês de gestação não estaria tirando nenhuma vida e, até onde eu sei, os médicos brasileiros sugerem que a interrupção da gravidez se dê até o 3º mês. 
"Ah mas o nascituro têm os direitos garantidos pelo Código Civil Brasileiro". Quem se interessar e decidir ler sobre o tema, encontrará uma doutrina que diverge muito sobre o tema! O legislador garantiu sim os direitos do nascituro (criando para assegurá-los até mesmo uma Lei de Alimentos Gravídicos), mas a maioria deles só podem ser exercidos após o nascimento com vida. 
Quanto a descriminalização não precisa ser especialista em direito penal pra saber que o tipo penal do aborto não tem eficácia alguma. Ele está lá no Código Penal, mas o número de denúncias que ele gera é quase ínfimo. Tipo o adultério que no Brasil foi considerado crime até o ano de 2006, um verdadeiro despropósito. O que o direito penal tem a ver com infidelidade conjugal? A mesma coisa: o que o direito penal tem a ver com o útero das mulheres. Nada 
O Estado, ao manter a conduta criminalizada, fecha os olhos para milhares de mulheres que morrem anualmente. Legalizar (e regulamentar, claro), não é um incentivo ao aborto, pelo contrário, pq junto com a legalização deve vir consicentização. Educação sexual nas escolas, em casa, parar de tratar sexo como tabu. Já que nas atuais gerações não se conversa em família sobre o tema, é importante que a escola faça isso para que as gerações que em breve estarão tendo seus próprios filhos, saibam da importância do diálogo sobre o tema.
E: os argumentos dele todos são, além de moralistas, machistas (se é que dá pra separar uma coisa da outra). Ele mostrava isso todas as vezes que tentava impor não só o seu modo de pensar, mas também como a discussão (tinha duas outras amigas argumentando) da maneira q ele achasse melhor, usando expressões do tipo "fale assim", "nao fale assado", usando bem esse tom impositivo mesmo.


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

MACHISMO NAS ELEIÇÕES 2014

Hoje no trabalho uma pessoa falou:
- Não acredito que tem isso tudo de gente votando na Marina...comprando o discurso dela.
Como a conversa não era comigo, apenas pensei "ah alguém que enxerga as contradições", mas eis que ela completa a frase com:
- Uma mulher daquelas..feia, não se maquia, eu acho que nem se depilar ela depila. Vocês podem até achar que é preconceito, mas não é...
Completei com "é MACHISMO mesmo" (sou dessas que se metem na conversa alheia quando percebo comentários desse tipo), e voltei pra minha sala.
O assunto continuou com "se uma mulher não cuida da própria aparência, como vai cuidar de um país?" e outros blablablas.
Fico pensando: cadê a CONSCIÊNCIA POLÍTICA de uma pessoa que justifica um (não) voto dessa maneira? 
Eu tenho milhares de motivos pra não votar na Marina. Comecei com poucos, sim, mas esses poucos foram aumentando conforme fui vendo as contradições do discurso da candidata em questão, mas NENHUM deles envolve a aparência dela.
Em que a aparência dela vai influenciar na forma de governar, caso eleita? Respondo: em NADA. Isso porque competência não tem nada a ver com aparência. A ideia de que a mulher tem que ser bonita (por "bonita", entendam que se encaixa no atual padrão de beleza ocidental) continua na cabeça das pessoas...aquela velha ideia machista de que as mulheres são meros adereços e, se não conseguem nem fazer o papel de enfeite direito (que na cabeça dessas pessoas é o papel básico de toda mulher), quiçá *qualquer outra coisa*. Triste e revoltante saber que em 2014 ainda tem gente pensando isso. Pior, saber que existem mulheres que pensam assim.
E  a ideia está tão arraigada que as pessoas acham completamente normal esse tipo de pensamento. Essa ideia de que a se a mulher não se maquia, não "se arruma", não veste "roupas bonitas" é de um machismo tremendo. Ninguém fala que não vai votar num candidato homem pq ele não se depila, pq não se maquia, pq não é bonito. Pode ser que não utilizem as melhores justificativas, mas não se escuta falar da aparência.
 Lembro de 2010 que muitas pessoas falavam do quanto a Dilma é feia, horrorosa, deveria melhorar etc etc (e falam até hoje). Também hoje muitas pessoas têm motivos pra não votar na Dilma (eu mesma, apesar de já ter declarado meu voto nela, fiquei meio na dúvida pq não concordo com algumas coisas), mas aparência? 

Então, antes de votar, melhor pensar, ler, pesquisar e refletir pra saber pq vota e pq não vota. E, por favor, na hora de analisar as candidatAs, por favor, propostas de governo, alianças, discursos são DIFERENTES de colocações machistas como as que versam sobre aparência.
Tá mais do que na hora de acabar com ideias do tipo. 
MULHERES NÃO SÃO ADEREÇOS!!!