quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A mentalidade escravocrata de quem deveria defender a sociedade








Escutei uma conversa bizarra entre três promotoras de justiça e que demonstra o tipo de sociedade (escravocrata, creio que seria o adjetivo) que vivemos no Brasil. 

- Ai, to sem empregada há quase um ano!
- Eu tenho uma ótima, ela tá comigo há bastante tempo...8 anos, a idade da minha filha.
- Tenho uma ótima também! Tá em casa há uns dois anos já.
- A minha mora comigo. É o melhor jeito, pq aí você nunca fica na mão. O segredo é você pagar acima do mercado. Ela não vai sair porque não vai ganhar tão bem em nenhum outro lugar.
- Além de pagar mais que um salário, não pode escolher nenhuma novinha não, tem ter mais de 40 já e não pode ser casada. Dou graças a Deus que a minha não tem marido e nem quer arrumar..já pensou ela casa e me deixa? 
- Boa ideia, Fulana, ainda mais que depois de uma certa idade fica difícil até arrumar emprego de outra coisa, né, e se não for casada...pff..pode ter certeza que não sai mais.
- Vou tentar agora ir de atrás de uma com esse perfil. Tá tão difícil conseguir empregada boa...

Eu enxergo uma mentalidade bem escravocrata nesse tipo de ideia torta. Elas pagam? Claro que sim (já imaginou se não pagassem?!!!), isso não quer dizer que manter a empregada doméstica morando na sua casa não beire a uma situação análoga a de escravidão, já que a pessoa, pelo conteúdo da conversa, deve ficar disponível 24 horas por dia para atender a todas as necessidades (?) dos patrões, inclusive feriados e fins de semana. Quem aguenta todo essa carga de trabalho? Nem elas mesmas trabalham tanto (só de férias, são 60 dias ao ano, sem contar os outros afastamentos a que têm direito). Não bastasse essa exploração toda, ainda querem que seja uma mulher solteira e na faixa dos 40 anos, tudo pra que "não sejam deixadas na mão", ainda querem uma pessoa que não tenha e não queira constituir família. Que absurdo! Tudo para que possam se entregar integralmente ao serviço. 
Engraçado...nenhuma delas optou por não constituir sua própria família para que pudessem se dedicar exclusivamente ao seu trabalho, mas querem alguém que faça isso por elas. Uma pessoa que não pode ter final de semana, feriado, talvez até pra conceder férias devem impor dificuldades e noite de sono tranquila então? Pq, né, a hora que ocorrer uma "emergência", com certeza serão chamadas..não tem hora-extra que pague isso! Além do que a CLT veda expressamente que um empregado faça mais de duas horas-extras por dia. Alguém duvida que essas senhoras precisem fazer mais?
Acho que tá na hora de dar um toque nessas pessoas que têm essa mentalidade, tipo "fera, a gente tá quase em 2015 e 1850. A escravidão já acabou... Lei Áurea..etc".
Elas querem alguém que passe o resto da vida limpando o que elas não têm coragem de limpar. E ainda tem que ser alguém sem ambição, alguém que quer ficar sendo empregada doméstica para sempre - uma profissão digna, sem dúvidas, mas hoje em dia cada vez mais as pessoas têm oportunidade de crescer e alcançar objetivos impensáveis antes.
Frisando que essas ideias tortas vêm da cabeça de promotoras de justiça. P R O M O T O R A S  D E  J U S T I Ç A. Só de saber dessa mentalidade, vocês já devem imaginar o compromisso com a justiça que elas têm: nenhum. E pensar que deverim fiscalizar a lei e defender a sociedade...

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Empregadas domésticas hoje no Brasil, graças a Emenda Constitucional nº 72, de 02.04.2013, têm exatamente os mesmos direitos dos demais trabalhadores urbanos. Decorrido mais de um ano desde a promulgação da emenda, o Congresso ainda não a regulamentou , o que deixou a classe no prejuízo, uma vez que alguns direitos decorrentes da emenda dependem de devida regulamentação, mas a própria emenda já pode ser considerada uma vitória, já que os trabalhadores domésticos sempre foram maltratados com salários baixos, longas jornadas de trabalho e pouquíssimos direitos trabalhistas.
Que o Congresso Nacional veja que é premente a necessidade de regulamentação da referida emenda para que possam ser assegurados todos os direitos para que o trabalho doméstica seja um trabalho decente para todas e que as pessoas comecem a pensar mais antes de fazerem questão de ter em casa uma escrava para satisfazer e atender o que pensam ser suas necessidades a qualquer hora do dia ou da noite.
Todos temos direito a um trabalho decente!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O deputado que acha bonito ser misógino

O tal do Bolsonaro disse para a também deputada Maria do Rosário "são não te estupro porque você não merece".
Isso é abominável em tantos níveis que eu fiquei até meio perturbada com essa declaração, até porque as informações que saíram na mídia é que ele já havia feito esse tipo de declaração direcionada a referida deputada em 2003. Na primeira vez, nada foi feito. Dessa vez, outras deputadas já saíram em defesa da ofendida e já há, inclusive, proposta de alteração do Código de Ética parlamentar para tratar de agressões machistas. 
Eu tô torcendo muito pra que dê uma quebra de decoro parlamentar que resulta em cassação do mandato. Esse cara já falou tantas atrocidades, já atentou contra direitos humanos e até agora nada foi feito. Quem sabe depois dessa os próprios parlamentares - homens e mulheres - façam algo pra que isso pare.
Como bem disse a Manuela D'Ávila: "quando ele diz que ela não merece ser estuprada, diz subliminarmente que 1) algumas mulheres merecem 2) que ele é potencial estuprador. 
Uma pessoa que tem coragem de fazer esse discurso misógino só faz pq sabe que nada vai acontecer, que ele pode falar sem que tome nenhuma punição e também pq sabe que esse é o senso comum: as pessoas realmente acreditam que existem mulheres que merecem ser estupradas. Essa mentalidade precisa mudar. Nenhuma mulher. NENHUMA. N E N H U M A mulher merece ser estuprada. Se você acha que "ah mas nessa situação ela merecia" NÃAAAAO!!! NÃO MERECE.
É sério, gente, vamos tentar mudar essa mentalidade pra que Bolsonaro e seus seguidores (tem gente que quer que o misógino seja presidente!!) não possam mais dar esse tipo de declaração e, caso resolvam abrir a boca pra cagar, que sejam punidos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Força, Andressa!



A nossa eterna vice miss bumbum, Andressa Urach, está mal - internada, respirando com a ajuda de aparelhos, após uma complicação de uma aplicação de hidrogel feita há 5 anos - e estou aqui torcendo muito por ela pra que ela saia bem dessa! O triste é ver o quanto de pessoas está debochando da situação, dizendo que "ela quer aparecer", falando que "bem feito, quem mandou ser vaidosa e fazer esses procedimentos", "é so uma subcelebridade que ta sofrendo as consequências das atitudes". 
Meu, o que é isso? Que falta de empatia é essa? Então um ser humano está mal, e você pensa "bem feito"? Humanidade mandou lembranças! Humanidade e coerência também. Pensem só: hoje vivemos em uma sociedade na qual nós mulheres devemos alcançar um padrão de beleza...inalcançável. Eu, por exemplo, que sou bem magra, estou fora do padrão, pq tem que ser magra, mas  ~com curvas~  então tenho que fazer musculação, botar um silicone, comer mais. Quem é gorda não pode ser gorda, pq "hoje em dia tem muitos métodos pra emagrecer e fechar  a boca é de graça", ser gorda é uma verdadeira heresia. Quem é gostosa é fútil pq "deveria se importar com coisas mais importantes que beleza", especialmente se conseguiu isso através de procedimentos estéticos, afinal, "beleza tem que ser natural". Oi???? Então se eu não me utilizo dos métodos artificias eu tô errada e se eu uso eu tô errada também? 
Andressinha é vítima - assim como todas nós, mulheres -   dessa  busca implacável pela beleza. Quantas mulheres morrem por fazer procedimentos estéticos e cirúrgicos totalmente desnecessários apenas na ânsia de se encaixar nesse modelo? Eu nunca fiz nenhum procedimento, mais por falta de grana e coragem, mas não estou satisfeita com meu corpo, gostaria de mudar muitas coisas, e creio que muitas outras mulheres também se olhem no espelho e pensem que tem sempre algo pra mudar, pra aperfeiçoar. Gostaria de viver em um mundo em que todas nós fôssemos belas simplesmente pela nossa essência, pelo que somos e não apenas por um corpo que a sociedade insiste em objetificar.
No fim das contas, todas queremos ficar bonitas, sermos aceitas. Somos todas Andressa.
Melhoras pra Dedessa Urach!